domingo, 4 de abril de 2010

O difícil janeiro de 2010 para moradores de Jarim Romano

Fiz um resumo abaixo das principais noticias relacionadas ao caos que foi o mes de janeiro no bairro Jardim Romano, zona leste da capital.
Todas as noticias foram retiradas do site do SPTV.
É um texto grande mas vale a pena dar uma lida e refletir sobre como a dinamica do bairro e de toda a população foi alterada.
Durante todo o mês de dezembro, o bairro sofreu muito com o transbordamento do rio Tietê.


Duzentas e oitenta famílias do bairro já foram transferidas para Itaquaquecetuba.

Uma última olhada na casa antes de ir embora. Robson é o chefe de uma das 280 famílias que estão de mudança para o conjunto habitacional em Itaquaquecetuba. “A melhor coisa é a nossa filha não ficar doente e não correr o risco de perder tudo”, diz Robson Alves, eletricista.

Dona Nilza também está pronta para ir embora. Ela está feliz com a casa própria, mesmo longe dali. “É uma benção que caiu do céu”, diz.

Nem todos os moradores da área demolida no Jardim Romano aceitaram a transferência. Ao todo, 1.395 famílias foram cadastradas pela prefeitura. Destas, 450 optaram pelo aluguel social, que é um auxílio de 300 reais da prefeitura.

“Segundo as pessoas que estão nos cadastrando, eles falam que a prefeitura está dando trinta meses. Inicialmente de seis meses e se em seis meses a prefeitura ainda não tiver um lugar para a gente ir, dá mais seis meses. Assim que completarem os 30 meses, com certeza já terão uma localidade fixa para a gente”, explica Cleyson Conceição, carpinteiro.

Outros, não querem deixar as casas, mesmo alagadas. “Vou ficar até quando eles resolverem a situação da gente”, garante um morador.

No Jardim Romano já não há mais construções na beira do rio, área de invasão e onde deve ser construído o parque linear Várzea do Tietê. As obras devem estar concluídas em 2016.

Já na rua Capachós, a água não vai embora. Para andar na calçada, os moradores construíram uma passarela improvisada com pedaços de madeira. Um caminho perigoso e com limitações. Eles só conseguem chegar até a esquina. De lá em diante, fica intransitável.

A Secretaria da Saúde diz que já visitou quase 14 mil imóveis na região. Mais de 50 mil pessoas foram orientadas para se prevenir das doenças decorrentes dos alagamentos.

As bombas trabalham sem descanso para retirar a água da rua alagada, mas a defesa civil considera um trabalho sem resultado. O rio Tietê fica bem próximo e quando o nível está bem alto, a água retorna. “O rio está no mesmo nível da água daqui. Então nós jogamos a água para lá e ela acaba voltando com mais demora, mais volta. Se houver outra chuva, enche de novo”, explica Major Rodrigues, da Defesa Civil Municipal.

O cenário do bairro é o mesmo, desde o Natal. O carro branco continua boiando na água e os moradores enfrentando a enchente.

Para tentar reduzir os danos e evitar situações como o sofrimento das famílias do Jardim Romano, o governo do estado endureceu as regras para construção na várzea do rio Tietê e promete que a fiscalização vai ser rigorosa.

Hoje está sendo realizada uma blitz em Guarulhos. A operação foi montada para verificar se empresas instaladas perto do rio estão irregulares e se vão ter que se adaptar para cumprir as novas normas.

Os fiscais identificaram que no centro de distribuição da Bauducco, a maior fabricante e panetones do país, uma área da várzea do rio foi aterrada sem autorização.

Há um mês, os moradores de Jardim Romano convivem com os alagamentos. A cada dia de chuva, o resultado é o mesmo: ruas inundadas e pessoas ilhadas. Um conjunto habitacional foi invadido pelas águas.

Nesses 30 dias, foram poucas às vezes em que as ruas ficaram um pouco mais secas.

A prefeitura disse que a solução definitiva é tirar as pessoas do lugar, já que aquela é uma área de várzea do Rio Tietê. O trabalho já começou, mas, enquanto isso não acontece, os moradores vão sofrendo um dia atrás do outro.

Desta vez, a água subiu tanto que até os prédios ficaram alagados. Os moradores de um dos condomínios estão revoltados porque a água entrou nos apartamentos do térreo. O conjunto foi financiado e é pago. Os moradores estão desolados e sem esperança que o problema seja resolvido.

“A gente vem de bota. Estou vendo a hora de pegar uma doença nessas águas. Não estou tendo paciência mais", disse a comerciante Marta Alves De Almeida.

Alguns custam a acreditar que a rua virou um rio de novo. Só as casas mais altas não encheram.

A água suja encheu até os apartamentos do conjunto habitacional da Rua Capaxós. No térreo, os moradores colocaram muretas, mas não foi suficiente para barrar a água. Em um dos apartamentos todos os cômodos foram inundados.

“Não existe esperança. Não vai mudar. A tendência é piorar mesmo. Em vou embora daqui. Não dá mais para ficar aqui", decidiu Valquíria Santiago, promotora de vendas.

Também há um mês, os moradores do Bairro Jardim Fiorelo, em Itaquaquecetuba, estão com as casas cheias de água. Revoltados, eles queimaram móveis e pneus e bloquearam a ponte do rio que liga Itaquá a São Paulo.

O prefeito da capital, Gilberto Kassab, foi mais uma vez ao Jardim Romano. Ele disse que pediu à Caixa que libere os donos dos apartamentos alagados de pagar algumas parcelas do financiamento. “Esse conjunto habitacional construído pela Caixa teve o primeiro andar de todos os prédios alagado. Estamos oferecendo para as famílias auxílio-aluguel. E a Caixa Econômica também está estudando isentar o pagamento de prestações das pessoas que moram no primeiro andar. Essa decisão está sendo tomada, muito possivelmente, a pedido da prefeitura. Portanto, todos estão fazendo o maior esforço possível para estar ao lado das famílias”, falou.

A secretária estadual de Saneamento e Energia também está tentando liberar os moradores atingidos pela inundação de alguns pagamentos.

“O prefeito Kassab solicitou à Secretaria de Saneamento e à Sabesp a isenção de tarifas de água e esgoto para os moradores do Jardim Romano afetados por essas inundações. E nós vamos atender à solicitação do prefeito Kassab”, explicou Dilma Pena, secretária estadual de Saneamento e Energia.

A Sabesp já atendeu o pedido feito pela secretária Dilma Pena. Nos próximos três meses, os moradores das áreas alagadas do Jardim Romano não pagarão a conta de água.

Mas não foi fácil. Em certos momentos, a conversa do prefeito com os moradores ficou tensa junto ao conjunto habitacional do Jardim Romano. O prefeito ouviu muitas queixas. Às vezes, a conversa ficava difícil.

“Então, eu vim aqui para trazer... Deixa eu só falar. Eu vim aqui já. Aqui não choveu muito. Mas na cabeceira do rio choveu 66% a mais. É um dado técnico. É importante vocês terem”, explicou o prefeito Gilberto Kassab.

Depois de responder muitas as perguntas, o prefeito recebeu um convite. “Uma pergunta, uma pergunta:o senhor põe o seu pé na lama? Vamos por o pé na lama? Nós queremos o senhor lá para sentir na pele o que a gente sente. Isso aqui foi aprovado, no meio de um monte de água? As famílias pagam isso aqui e tirando da boca para poder pagar. A Caixa Econômica Federal tinha que estar aqui para dar apoio para essa famílias. Eu quero que o senhor ponha o pé na lama lá”, pedia a moradora.

O prefeito e a equipe, acompanhados pela imprensa, caminharam mais um pouco pelo bairro. Mas, para a decepção da moradora que pedia o pé na lama, ele não seguiu o caminho indicado por ela. Junto com agentes da Defesa Civil e da PM, Gilberto Kassab acabou voltando para o carro e foi embora, debaixo de gritaria.

A Caixa Econômica informou que a construção dos prédios no Jardim Romano foi autorizada pela Secretaria Estadual de Habitação e que no projeto foi levado em conta um estudo do DAEE, Departamento de Águas e Energia Elétrica, que levantou a cota de inundação da região e, segundo a Caixa, não indicou que a construção era inviável.

Depois de sair do Jardim Romano, o prefeito e a secretária estadual Dilma Pena foram vistoriar outro local também alagado. Eles foram à região onde fica o centro de distribuição da Bauducco, no limite de São Paulo e Guarulhos, na Rodovia Ayrton Senna.

A Secretaria Estadual do Meio Ambiente fez uma vistoria no prédio. Há a suspeita de que esse centro de distribuição, construído na várzea, esteja agravando as enchentes do Rio Tietê na capital.

A empresa recebeu uma advertência e prazo de um mês para resolver os problemas. Mas a Bauducco disse, no dia da vistoria, que não houve qualquer irregularidade na obra.


A desolação parece não ter fim


“Agora estou vendo a casa toda cheia de água, vou perder tudo o que tenho, ontem o rio estourou, foi tudo água abaixo”, fala Marta, moradora.

Em um mês, foram poucos dias de intervalo, com ruas secas.

“Eles lavaram a rua, só que os bueiros eles não limpam aí quando chove acontece a mesma coisa”, diz Cristiano, diz um morador.

Até agora, 367 famílias já deixaram suas casas.

Com muito cuidado, o que não se perdeu na enchente é colocado no carreto de mudança. Depois de passar mais de um mês quase sem sair de casa, a família está deixando o Jardim Romano de vez.

“Nossa, estou muito feliz”, fala uma moradora.

O dinheiro do aluguel-social foi dado pela prefeitura. São R$ 300 mensais durante seis meses. Mais R$ 200 para pagar a mudança.

Ainda tem muita gente vivendo literalmente dentro d´água no Jardim Romano. Em uma das casas, os papéis no chão eram os documentos dos moradores e eles dizem que quando não tem para onde ir, acabam dormindo e até cozinhando no local.

Geise, o marido e os filhos receberam o benefício e preparam a mudança.

Enquanto isso, outros moradores que ainda não receberam auxílio ou são donos dos próprios imóveis continuam convivendo com a inundação, onde já existe até peixe nadando.

Desde o dia 18 de dezembro, 87 famílias cadastradas já receberam o aluguel-social da prefeitura. Elas só recebem o dinheiro depois de definido o local para onde será feita a mudança.

O nível da água ainda não desceu no Jardim Romano, no extremo leste da capital. As 377 famílias já se mudaram.

Quem tem apartamento nos andares térreos de um conjunto habitacional no Jardim Romano vai poder se mudar para outros conjuntos da CDHU. Hoje está sendo feito o cadastramento dos interessados.

Depois de 48 dias de alagamento, parece que a água baixou, mas a quantidade de lama e o mau cheiro continuam.

O nível do rio Tietê, que passa ao lado da rua, está mais baixo. Por isso, a prefeitura conseguiu utilizar ontem à noite uma bomba para retirar a água do bairro e despejar no rio. O alagamento diminuiu e os moradores agora torcem pra não chover forte de novo.

Os moradores do conjunto habitacional que foi invadido pela água vão poder mudar para outros apartamentos da CDHU. Muitos deles ainda pagam o financiamento e estão felizes com a oportunidade de saírem do local.

Faixas de protesto amanheceram penduradas nos prédios e portões dos condomínios. “A população aqui do Jardim Romano está vivendo igual a porcos, rastejando pela lama. É lamentável”, reclama Maria Zaccarelli, operadora de telemarketing.

A região do Jardim Romano está alagada desde o dia oito de dezembro. Cerca de quatrocentas famílias já se mudaram. A prefeitura pretende retirar ao todo seis mil famílias das áreas de várzea e transformar a região em um parque linear.

Até agora, 1.900 famílias já se cadastraram para deixar o local. Ao todo, 87 foram para outros bairros e passaram a receber um auxílio aluguel de R$ 300 reais; 280 famílias também se mudaram para dois conjuntos da CDHU, em Itaquaquecetuba.

A água já baixou na maioria das ruas, mas o trabalho de limpeza ainda vai longe. Os moradores tiram o que podem e a prefeitura usa uma espécie de aspirador para sugar a lama.

Mais de 25 mil pessoas tiveram que sair de casa por causa das enchentes em todo estado. No extremo leste da capital, o drama já dura mais de um mês. A saída é a solidariedade.

Até as coisas mais simples ficam difíceis aqui no Jardim Romano. A solidariedade ajuda a amenizar as dificuldades das famílias que vivem no extremo da zona leste de São Paulo. A repórter Daiana Garbin encontrou alguns exemplos de dedicação ao próximo.

Na casa da dona Maria, um exemplo de solidariedade. Na sala da casa dela existem várias pessoas dormindo, são cinco pessoas com a filha da dona Maria.

“Tem que socorrer as pessoas que estão nas ruas”, diz Maria.

Na parte de cima do sobrado mora o genro dela, o seu Valdemar. Mesmo desempregado ele levou para casa 30 pessoas.

“Fui chamando um. Aí o outro opa: "vamos, vamos..." e fomos. Nós estamos nos virando. Educação que meu pai e minha mãe "me deu: solidariedade”, fala.

Cláudio Roberto Vieira de Freitas está dormindo na varanda na casa de Valdemar, com as três filhas pequenas, a mulher, e mais dez pessoas.

“Ele nos abrigou. Está guardando a gente aqui. A gente só espera uma coisa: que a água baixe para a gente voltar a nossa vida normal. Isso que a gente quer", relata.

Na Vila Itaim, outro bairro da região atingido, algumas pessoas não tiveram a mesma sorte. Elas estão dormindo numa escola.

“Aqui tem mais ou menos de 30 a 40 famílias, num total de 50 pessoas dentro dessa escola nesse exato momento", fala Osvaldo Ribeiro, professor.

“Até as crianças tomam banho na água gelada”, diz Roseli Pereira, catadora.

A Cruz Vermelha organizou uma campanha e já distribuiu oitenta toneladas de donativos. Grande parte deles é encaminhado para a zona leste da cidade. Roberto, dentista foi levar arroz e água hoje.

“Eles merecem muito mais do que a gente sabe. Isso me comove o coração”, conta.

Em Ermelino Matarazzo, o padre Ticão usa a tecnologia para tentar ajudar.

"Dos quase 50 dias, nós estamos na pior situação porque a água está chegando em lugares que não tinha chegado", conta o padre.

O padre tem ajuda de gente como o seu Joaquim Toledo, aposentado, que trouxe uma doação simples.
“Eu trouxe três pacotinhos de pedra de sabão. Coração aliviado. Minha alma parece que limpou”, desabafa.

O que as famílias mais precisam agora é de alimentos e material de limpeza e higiene.

Moradores do conjunto habitacional do Jardim Romano já podem mudar de casa. É o que garante a Caixa Econômica Federal, que financia os apartamentos. Só que isso não deve resolver a situação de quem enfrenta os alagamentos há 50 dias.

As duas entradas do condomínio estão praticamente intransitáveis. O campinho virou um lago de sujeira.

A água invadiu os apartamentos do térreo e do primeiro andar. Para os donos desses imóveis, a Caixa Econômica Federal está oferecendo a transferência para outros conjuntos habitacionais na zona leste e na Grande São Paulo.

“Eles querem nos colocar onde a gente não quer ir. Aqui eu escolhi, agora eu tenho que ir para um lugar onde eu não quero ir, onde eu não sei se é seguro para os meus filhos”, diz Ana Paula Cipriano, cabeleireira.

“São os apartamentos que ela quer. Eu fui ver os apartamentos e eles estão inabitáveis, não têm condições de uso, então vai ter que reformar”, garante Aldinei Rogério, coordenador de atendimento.

Iolanda mora no segundo andar. Ela conta que quando alaga lá embaixo a água jorra dos ralos lá em cima. “Tirando eles ou não, a gente continua pisando na lama. Me sinto abandonada como bicho”, lamenta.


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