terça-feira, 6 de abril de 2010

Soluções Tecnológicas e Arquitetônicas para melhor gestão de águas e chuvas na Cidade

Como as construções e a cidade podem intervir positivamente na manutenção desse processo?

Como citado nos posts anteriores, a forma como a cidade é pensada causa uma interferência direta e agressiva nos sistemas naturais locais onde ela está inserida, o que é ao mesmo tempo a causa e a conseqüência do problema das enchentes que nos assolam. Mas o que pode mudar nas construções e nas cidades para que essa interferência seja menor?
A princípio, como diretriz do novo modo de pensar, temos que ter em mente o processo natural que ocorria antes da inserção da construção, e fazer com que ele seja o mais aproximado possível após a interferência.
Drenagem das águas pluviais: Num ambiente natural, a água seria quase que totalmente absorvida, sendo o excedente diretamente escoado (numa fração mínima) em direção aos corpos d'água. Diferentemente da água que cai em um telhado, que percorre um caminho todo impermeabilizado e literalmente “corre” em vez de percolar (por um meio poroso) em direção aos coletores pluviais, saturando o sistema em questão de minutos. Para evitar que esse problema ocorra, precisamos reter a água e diminuir sua velocidade de escoamento. Cada lote construído é um pedaço de solo permeável que virou uma piscina sem bordas. A melhor maneira de se retornar ao estágio inicial é fornecendo de volta a permeabilidade e porosidade do solo. E o método mais propício para isso é erguer o terreno natural para cima da construção. Isto mesmo, levar o solo vegetado para o topo da construção. Ou seja, o fim das telhas, e o início da era dos jardins suspensos. O telhado verde absorve a água da chuva e a libera aos poucos de volta ao sistema. Isso espalha o escoamento de poucas horas para vários dias e resolve grande parte do problema.
Pavimentação permeável: Excluindo as áreas construídas que possuem telhados a serem vegetados, ainda teremos uma extensa área coberta por pavimentações impermeáveis, que não só irradiam calor como impossibilitam a absorção da chuva, contribuindo duplamente para o problema. A solução é amenizar o problema utilizando materiais (que já existem no mercado de forma acessível) que sejam mais porosos e permeáveis, favorecendo a absorção da água em vez de escoá-la. Além disso, a porosidade (preenchida com ar ou água) aumenta o calor específico do material causando menor irradiação de calor, tal como faz o colchão de ar do telhado verde, embora este o faça de forma mais eficiente. Estes materiais são simples como uma forma diferente de se fazer o concreto ou certos tipos de pisos intertravados.
Reuso de água: Já que vamos manter grande parte da água em nossas casas por alguns dias, porque não usá-la no nosso dia a dia? Boa parte dos usos da água numa residência ou num processo fabril não necessita de que a água seja potável, na verdade, apenas a água do preparo de alimentos, da ingestão direta e da higiene pessoal (banho, escovação de dentes etc.) precisam de água potável, o resto precisa apenas de água limpa. Pois interessantemente, esses processos que podem ser beneficiados pelo reuso da água representam até 80% do uso da água. E a mesma água pode ser utilizada várias vezes, se receber tratamentos simples e baratos (como filtragem, decantação etc.). Com isso, teremos não só a resolução do problema das águas pluviais como também redução na emissão de esgotos, além de uma enorme economia na conta de água. Bom para os mananciais, bom para o contribuinte, bom para os rios, e bom para a natureza.
Lei da piscininha: Já está em vigor a lei estadual (SP) que obriga as novas construções superiores a 500m² a possuírem sistemas de contenção temporária de água de chuva (mini piscinões) com volume em m³ igual ou maior que 15% da área em m² impermeabilizada no empreendimento. Com isso, metade do caminho que une o telhado ecológico e o reúso de água passa a ser obrigatório.

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